O Cérebro Feliz: Como a Alimentação Influencia Seus Neurotransmissores e Emoções
- Ezequiel J. Pérez-Monterroza

- 11 sept 2024
- 3 Min. de lectura
Actualizado: 18 sept 2024

Acredito que todos concordamos que a felicidade é mais do que aquilo que sentimos com uma emoção passageira. Segundo a neurociência, é um estado que envolve a interação complexa de várias regiões do cérebro, modulando nosso estado de ânimo e a sensação de bem-estar. Podemos moldar a felicidade a partir do que comemos? Se a felicidade é o resultado de um processo complexo que envolve várias regiões do cérebro e o subsequente aumento no nível de certos neurotransmissores, a alimentação saudável pode afetar esse mecanismo, favorecendo a geração de emoções positivas?

De acordo com Kringelbach ML and Berridge (2010), a experiência de felicidade é o resultado da interação entre o sistema límbico (também chamado de cérebro emocional), o córtex pré-frontal e o centro de recompensa. O sistema límbico realiza uma avaliação dos fatores externos, resultando em uma série de respostas fisiológicas e de comportamento ajustadas à emoção percebida. Neurotransmissores como a dopamina, a serotonina e a ocitocina atuam como mensageiros que facilitam essa comunicação emocional. Por sua vez, no córtex pré-frontal, ocorre a reflexão e a regulação dessas emoções, permitindo-nos tomar decisões de acordo com nossas metas e valores. Finalmente, os estímulos prazerosos levam à ativação do sistema de recompensa e à liberação de neurotransmissores como a dopamina, o que reforça aqueles comportamentos e experiências associados à felicidade.
Os alimentos com alto teor de carboidratos complexos, como os presentes em frutas, verduras e cereais integrais, aumentam os níveis de serotonina, um neurotransmissor que tem uma influência importante sobre nosso estado de ânimo e o sono (White et al., 2013). Este neurotransmissor desempenha um papel fundamental na conexão das regiões do cérebro e na modulação das emoções positivas, além da redução das emoções negativas. Consequentemente, ocorre um aumento da sensação de bem-estar ou felicidade (Ocean et al., 2019). O efeito antioxidante das vitaminas C e E, presente nas frutas, contribui com a proteção do cérebro contra o estresse oxidativo e promove o bem-estar mental (Berk et al., 2013), o que pode levar a uma diminuição da dopamina ou outros neurotransmissores chave para a felicidade (Ocean et al., 2019).
Ocean et al. (2019) destacam que alimentos ricos em vitaminas do complexo B ajudam a manter a função mitocondrial, crucial para a produção de energia celular. A disfunção mitocondrial tem sido associada a problemas de saúde mental, como estresse e ansiedade, o que sugere que uma dieta rica em vitaminas do complexo B poderia favorecer um estado de ânimo positivo e contribuir para a felicidade.
Existe outro elemento chave na experiência da felicidade. O processo não se compõe apenas do mecanismo de interação entre o sistema límbico, o córtex pré-frontal e o centro de recompensa. A neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar suas conexões ao longo da vida, desempenha um papel igualmente importante para experimentar a felicidade. Embora os alimentos pareçam não ter um efeito significativo nesse processo de adaptação, existem outras práticas que podem reforçá-lo, como a meditação, apreciar as coisas boas da vida e melhorar ou fortalecer nossas interações sociais positivas (Kringelbach e Berridge, 2010).
Parece que a receita para nos aproximarmos da tão almejada felicidade reside em adotar uma alimentação saudável e ter conexões sociais que gerem emoções positivas. Isso nos permitirá exercitar nosso cérebro para uma maior capacidade de experimentar a felicidade.
Compartilhe suas dicas para uma alimentação feliz nos comentários! Que alimentos te fazem sentir bem?
Referências
Berk, M., Williams, L.J., Jacka, F.N., O'Neil, A., Pasco, J.A., Moylan, S., Allen, N.B., Stuart, A.L., Hayley, A.C., Byrne, M.L., Maes, M., 2013. So depression is an inflammatory disease, but where does the inflammation come from? BMC Med. 11, 200.
Kringelbach, M.L., Berridge, K.C., 2010. The Neuroscience of Happiness and Pleasure. Soc. Res. (New York). 77(2), 659–678.
Ocean, N., Howley, P., & Ensor, J. (2019). Lettuce be happy: A longitudinal UK study on the relationship between fruit and vegetable consumption and well-being. Social Science & Medicine, 222, 335–345.
White, B. A., Horwath, C. C., & Conner, T. S. (2013). Many apples a day keep the blues away– Daily experiences of negative and positive affect and food consumption in young adults. British Journal of Health Psychology, 18(4), 782-798.



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